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sábado, 14 de fevereiro de 2009

"Tempo, tempo, tempo, mano velho..."

"-Você sabe, Josef! Por que me faz dizer? O inimigo certo é o significado subjacente de sua obcessão. Pense em nossa conversa de hoje...repetidamente, temos retornado aos seustemores do vácuo, do esquecimento, da morte. Está lá no seu pesadelo, no solo se liquefazendo, em seu mergulho até a laje de mármore. Está lá no seu medo do cemitério, em suas preocupações com a falta de sentido, em seu desejo de ser observado e lembrado.
O paradoxo, seu paradoxo é que você se dedica à busca da verdade, mas não consegue suportar a visão de sua descoberta.
-Mas também você, Friedrich, deve estar assustado com a morte e a ausência de Deus. Desde o comecinho, tenho perguntado: "Como você suporta? Como você conseguiu aceitar tais horrores?"

- Talvez seja hora de lhe revelar - respondeu Nietzsche, assumindo ares grandiloquentes. - Até agora, achava que você ainda não estava preparado para me ouvir.
(...)
-Não ensino, Josef, que se deva "suportar" a morte ou "aceitá-la". Isso seria trair a vida. Eis minha lição para você: Morra no momento certo!
(...) Hoje, fale-me sobre morrer no momento certo.

- Viva enquanto viver! A morte perde seu terror quando se morre depois de consumida a própria vida! Caso não se viva no tempo certo, então nunca se conseguirá morrer no momento certo.
-O que isso significa?"

(...)

[Quando Nietzsche chorou - Irvin D. Yalom]


O risco de morrer, a magia do nascimento, a compreensão do fim e a frustração de descobrir que sua dedicação durante longos anos a alguém ou alguma atividade foi em vão acabam por levar às reflexões sobre o tempo em que se vive por aqui.

Quando eu era pequena, melhor dizendo mais nova, tinha o costume de escrever em meus diários boa parte do meu dia-a-dia e de frisar sempre os acontecimentos mais importantes daquele momento em que vivia.
Há cerca de 1 ano, não sei explicar, fui deixando isso de mão. Sei que uma das minhas justificativas para continuar escrevendo durante todos os anos que o fiz era o fato de sempre que buscava compreender o porque de eu reagir a certas situaçoes de forma x ou y, sempre tentando entender o movimento do meu desenvolvimento e do meu amadurecimento, buscando sempre um crescimento interior e sempre me tornar uma pessoa melhor sem precisar esquecer o que é de minha essência e o que eu realmente precisava abolir do meu comportamento, apesar de muitas vezes ter sido ludibriada a mudar de comportamento para agradar aos outros como uma maneira de crescer e me tornar menos infantil.

Hoje já compreendo muito do que fui e do que sou. Sei que ainda tenho muito a alcançar, mas ao menos tenho a consciencia limpa de que sempre, fiz a minha parte, de que sempre, a intenção foi das melhores e que nunca poderei dizer: não tentei.

De início agia com a emoção, guiada pelos mais sinceros e verdadeiros sentimentos. Depois, atordoada e conhecendo o novo jeito de fazer as coisas (pela razão), muitas vezes meti os pés pelas mãos.

Na obra de Irvin acima citada, em sua conversa com Dr. Breur, Nietsche discute sobre a morte e o tempo vivido pelo médico, indaga suas ações e se os acontecimentos por ele vividos foram de escolha dele e faz com que o médico reflita no auge de seus 40 e poucos anos sobre tudo o que fizera e o sentido de tudo o que vivera até então.

Identifiquei-me muito com este trecho da obra, apesar de ter quase a metade da idade do Dr. Breur. Não sei se é comum passar por este tipo de reflexão na minha idade, mas considerando que sempre refleti e pensei demais sobre tudo, acho que comigo talvez seja mais do que natural.

E agradeço por isso. Pois assim, a cada dia, a cada coisa que vivo, conheço melhor a minha essência e tenho mais consciência de que não preciso mudá-la para atingir a felicidade ou mesmo para amadurecer.


Como disse Nietzsche ao Dr. Breur: "até agora achei que você não estava preparado para ouvir, mas é bom lhe revelar." Também não estava preparada, mas ainda bem que já atingi essa nova etapa e sozinha! Encontrei meu paradoxo e me defiz dele, assim minha busca pela verdade agora continua sem dúvida nenhuma com uma visão diferente, afinal, já consigo suportar a visão da minha descoberta.

Como diriam uns e outros: a verdade dói, mas liberta!

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